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  EBOOK (Amazon): FÍSICO (Clube de Autores):       O s viajantes – a família e os pesquisadores – começam a se aclimatar à exótica cultura de Ybymarã. Quase todos praticamente esquecem o mundo de onde vieram e, mesmo que lembrassem, quase que certamente não desejariam voltar. Influenciados pelos costumes culturais, foram mudando de hábitos, e passaram a ver o mundo de outra forma e com outros valores. Adotaram a típica tranquilidade ybymarense de uma cidade pequena, mesmo quando trafegavam pelo movimentado centro de Ybymarã. O tempo foi passando e, vários meses depois de intenso trabalho conjunto, a equipe destinada a desvendar o mistério da “bolha” obteve resultados surpreendentes e, de certa forma, perturbadores. 📘 Leia o primeiro capítulo! 🠉  Voltar para a página inicial  

Ybymarã - A Magia Interior - Capítulo 2 - Os Aprendizes

 

 

Imagem: Freepik

 Ybymarã - A Magia Interior

Capítulo 2 - Os Aprendizes

Rafael aguardava tranquilamente no saguão de entrada do Centro de Pesquisas. Sentado em uma das confortáveis e ergonômicas poltronas, observava as multicoloridas petúnias que enfeitavam o local. Lembrou-se da história das petúnias contada por Marlene alguns dias antes. Focou em uma única flor e depois ampliou a visão, observando todo o arranjo cuidadosamente mantido em um bonito vaso branco. Sua visão entorpeceu e ele ficou pensativo por alguns instantes. Então voltou o olhar para o relógio-calendário na parede. Franziu as sobrancelhas e fez um tímido movimento de não com a cabeça. O relógio lhe parecia distante e etéreo.

Não… não… tem coisa errada aqui… – falou mudo para si mesmo, apenas movimentando levemente os lábios, como se seu pensamento quisesse ser exteriorizado.

Ele já estava trajado com o quíton de cor azul-esverdeada característico do local e, segundo o costume, não usava sapatos. Percebeu que o piso do local tinha uma textura parecida com madeira e apresentava uma agradável sensação térmica ao toque. Estava distraído quando sentiu alguém colocar a mão em seu ombro. Emitiu uma breve interjeição seguida por um leve movimento brusco mas contido. Era Adeline.

Parece que levo jeito pra assustar você…

Da próxima vez me chame pelo nome, está bem?

Tá certo. Venha, Lucas está te esperando no laboratório 1D.

Rafael levantou-se e seguiu com Adeline complexo adentro. Todo o local tinha um visual limpo com cores claras, sempre amplo e climatizado. Vasos com todo tipo de petúnias e algumas pinturas abstratas coloridas faziam um agradável contraste com as linhas retas da construção. Passaram por um grande e alto salão octogonal, onde havia algumas claraboias no teto geométrico, que iluminavam um pequeno jardim central. No meio dele havia uma marcante fonte circular em forma de petúnia, onde os jatos de água pareciam grandes pistilos. As paredes do local eram enfeitadas com milhares, senão milhões, de nomes acompanhados de uma data, escritos a mão. Eram tantos que foram erguidos alguns monolitos concêntricos, cuja disposição acompanhava a forma octogonal do lugar, e que também já estavam parcialmente tomados por nomes datados. Rafael observou tudo calado e curioso.

Se trabalhar ou estudar aqui, poderá merecer o direito de colocar sua assinatura aí – comentou Adeline.

Entendo…

Alguns instantes depois, um grupo de pessoas passa por ali conversando animadamente, todas usando saias ou vestidos longos, scarpins de salto fino, joias e maquiagem. Elegantes e sem exagero ou extravagância, aos olhos de Rafael. O que chamou mesmo a atenção dele era que havia dois homens no grupo. Observou um deles lentamente, de baixo a alto. Para ele, a cena transcorreu em câmera lenta. O singular personagem sorria ao falar com suas(seus) companheiros(as). Demorou alguns instantes para que a atenção de Rafael se desvencilhasse da cena. Então voltou o olhar para os pés descalços de Adeline e dele próprio. Fechou os olhos, balançou levemente a cabeça e suspirou, emitindo um fraco som.

Percebo que ainda está com muita dificuldade em ver homens trajados dessa forma… – comentou Adeline.

É… pois é…

Acha feio ou indecente, algo assim?

Não. Só estranho mesmo. Nesse ponto, minha mãe é bem mais “avançadinha” que eu – disse, imitando aspas com os dedos das duas mãos.

Avançadinha? – indagou Adeline, curiosa.

Ela nunca foi ativista, mas prega liberdade total de expressão. Às vezes a invejo por isso. Mas meu pai é meio que o oposto, sabe. Tem dificuldade com certas coisas.

Começaram a andar novamente. Adeline ponderou:

Mas ele é psicólogo. Deveria ter uma compreensão bastante acurada das nuances da mente humana.

Isso ele compreende e muito bem. – disse Rafael com ênfase no “e”, complementando depois de uma ligeira pausa: – No campo teórico. Ele sabe que não há nenhum desvio comportamental na sua cultura em relação a isso. Mas pra ele esse tipo de coisa é muito difícil de assimilar. Chega a ser paradoxal, sabe?

A mente humana é mesmo cheia de mistérios. Os engenheiros genéticos têm um certo “pavor” de mexer com o cérebro.

Rafael fez um leve movimento de “sim” com a cabeça.

Chegamos – disse Adeline. – Vou deixá-lo aqui, com Lucas. Se precisar é só chamar – tocou o RRT em seu braço com a ponta do dedo indicador.

Rafael entrou no laboratório através de uma porta deslizante, que abriu automaticamente, enquanto Adeline se retirava. Era um laboratório de nanofotoeletrônica. Havia três pessoas trabalhando ali. Ele viu Lucas chamá-lo para uma das bancadas.

Seja bem-vindo ao meu laboratório – disse.

Rafael foi até lá.

É impressionante isso aqui… – comentou, observando.

O local era bastante amplo e iluminado – como todo laboratório deve ser. Próximo a uma das paredes, haviam bancadas com vários monitores transparentes de grande tamanho, exibindo desenhos que lembravam litografia de circuitos integrados. Sobre a bancada, teclados mecânicos de alta qualidade contrastavam com os monitores. No centro da sala havia uma estrutura cilíndrica de metro e meio de diâmetro e altura de uma mesa comum. Acima dela, um detalhadíssimo holograma com esquemáticos. Na parede oposta às bancadas, havia instrumentação que parecia coisa de ficção científica. Todo o teto funcionava como lâmpada, como uma grande placa luminosa.

Então, Lucas apresentou Rafael a seus companheiros: Zander e Nadire. Todos estavam descalços, como era costume naquele lugar, trajando quítons com as mangas e cintos de cor azul-esverdeada. Rafael também usava as mesmas vestimentas, inclusive descalço. Já não estranhava mais o curioso costume daquele lugar. Rápidos cumprimentos foram trocados.

Sinto-me honrado em poder participar da equipe – comentou Rafael. – O que vocês fazem?

Basicamente trabalhamos com nanofotoeletrônica – disse Nadire.

Sim – complementou Zander. – Nosso foco no momento é bissulfeto de molibdênio. É um material ótimo para construir processadores quânticos em temperatura ambiente.

Estão trabalhando com luz líquida, não é? – comentou Rafael. – Mas a molibdenita já não está ultrapassada para vocês?

É que a molibdenita é muito fácil de obter e na pesquisa que estamos fazendo estamos limitados ao tamanho dos átomos, Rafael.

Faz sentido… – observou Rafael.

Então seu olhar foi atraído por um pequeno quadro na parede, impresso em papel, onde havia alguns esquemáticos. Foi até lá.

Curioso… – disse. – Eu conheço isso. Barramento de 8 bits, quatro slots, sendo que cada um pode ser expandido para mais quatro…

Ficou ali por alguns instantes.

É uma cópia do esquema do modelo original que depois se tornou padrão para nossos computadores – disse Lucas. Então complementou: – Venha, Rafael, vou explicar um pouco do que estamos fazendo.

Rafael observou atentamente enquanto os pesquisadores o atualizavam com a pesquisa. Ele ficou absorto com os avanços tecnológicos daquela sociedade e curtiu a aula como se fosse uma criança – algo que fazia sentido, já que o conhecimento de Rafael era ínfimo em relação ao dos nativos. Não obstante, absorveu tudo com maestria e sem dificuldades.

Algum tempo depois, Jandira1 adentra o recinto trazendo Emily consigo para juntar-se ao grupo. Ela também estava com o “uniforme” característico do lugar.

Seja bem-vinda, Emily. Junte-se a nós convidou Lucas.

Rafael sorriu.

Com você aqui não me sinto tão deslocado…

Espero que meus parcos conhecimentos de fotônica possam servir para alguma coisa.

Não seja tola, Emily – disse Lucas. – Não tem como colocar vocês em uma sala de aula para serem atualizados. Vai por mim, aprender aqui no laboratório é bem mais divertido.

Nadire complementou:

E se você for tão esperta quanto Rafael, logo estará a par de tudo o que estamos fazendo aqui.

Lucas tem razão, Emily – disse Rafael. – Isso aqui é bem mais divertido do que uma sala de aula.

Parece que você está em boas mãos. Então já vou indo – disse Jandira ao deixar o recinto.

Rafael fez uma expressão de que havia se lembrado de algo. Então perguntou:

Emily, está sabendo alguma coisa sobre Yami?

Ainda não conseguiram nada. Mas tem um especialista vindo de outro país para ajudar – fez uma expressão de dúvida. – Dizem que é tão inteligente quanto Yami.

Rafael sorriu um meio sorriso. Emily continuou:

O nome dele é Manuel. Chega amanhã e estou ansiosa pra conhecê-lo.

Eu o conheço – disse Zander. – Tem coisas que ele diz que são indecifráveis para pesquisadores normais como eu.

Já ouvi os viajantes falarem a mesma coisa com relação a Yami ponderou Lucas.

É, eu também ouvi – disse Rafael.

Talvez eles se deem bem, então – continuou Zander. – Manuel é bastante solitário em suas ideias. Deve ser difícil conviver com pessoas que não conseguem te compreender.

Verdade – comentou Rafael. – Meu pai disse que pessoas muito inteligentes tendem a se sentir solitárias e incompreendidas. Às vezes ficam depressivas, como é o caso de Yami.

Ela sofria muito mesmo – disse Emily. – Tenho pena dela…

Rafael resolver mudar de assunto:

Me diga, Emily, e quanto a Natasha?

Foi designada para o laboratório 2C. Microbiologia, se não me engano. Se a conheço bem, ela vai aprontar todas por lá.

Rafael sorriu.

Tanto assim, é?

Quando a conhecer melhor, saberá do que estou falando.

Bom, mas vocês dois são meus aprendizes agora. – disse Lucas, brincando em seguida: – Podem me chamar de “Mestre”.

Tá bom, “Mestre” – disse Rafael, seguindo a brincadeira de Lucas. – E o que tu queres que façamos agora, ó Senhor de Toda a Sabedoria?

Rafael executou uma performance insuperável ao pronunciar estas palavras. Todos riram. Lucas continuou a brincadeira, também executando uma performance pitoresca:

Mim quer que ocêis dois presta atenção em nóis pra aprendê um pôco das coisa.

Emily pôs a mão na testa.

Um pior que o outro…

Depois de algumas gargalhadas, ela e Rafael puseram-se a ouvir atentamente a exposição do trabalho, executada com dedicação pelos seus novos amigos, que estavam bastante animados. Para todos ali aquilo era a mais pura diversão, e o tempo passou sem que se dessem conta disso. A hora de cada um voltar para seus outros afazeres chegou rapidamente, deixando uma sensação de “quero mais” em todos ali.

1  Jandira é a anfitriã responsável pelo grupo de Emily.

 

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